Candidato à presidência pelo PSTU critica desigualdade na campanha

11/08/2010 11:54

 

Para Zé Maria, os gastos financiados pela iniciativa privada e a divisão desigual do tempo na televisão e rádio já define que são os candidatos.

 

A capital do Rio Grande do Norte, Natal, recebeu nesta quarta-feira (4) o candidato à Presidência da República pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), Zé Maria. Ele concedeu entrevista ao Nominuto onde respondeu sobre eleições, educação, saúde e segurança. Sobre o processo eleitoral, Zé Maria criticou a forma com que os candidatos movimentam a campanha, com mais tempo na televisão e gasto de milhões.

Para ele, nem os eleitores conseguem conhecer todos os candidatos já que o tempo da televisão é pequeno para os partidos menores e o gasto na campanha supera as cifras dos milhões. Se você somar a incidência do poder privado na campanha com a desigualdade do tempo dos candidatos na televisão, você vai ver que esses dois fatores decidem de antemão qual candidato pode ganhar as eleições e qual não pode. Esse é um fator que a metade da população vai achar que só existem três candidatos (Serra, Dilma e Marina) quando na verdade são nove, destaca o candidato Zé Maria.

Num eventual segundo turno para as eleições nacionais, Zé Maria não respondeu qual dos candidatos o partido poderia apoiar, mas deixou claro que o candidato tem que concordar com as mudanças propostas pelo PSTU.

Leia a entrevista na íntegra.

Nominuto A declaração de gastos de milhões na campanha dos candidatos José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) de Dilma Rousseff (PT) é desproporcional ao gasto dos pequenos partidos, como o PSTU. Além disso, o tempo de televisão deles é bem maior do que o tempo dos partidos pequenos, como é senhor avalia essa situação

Zé Maria É grave, na verdade se pode dizer qualquer coisa do sistema eleitoral brasileiro, menos que é democrático, que é livre. Se você somar a incidência do poder privado na campanha com a desigualdade do tempo dos candidatos na televisão, você vai ver que esses dois fatores decidem de antemão qual candidato pode ganhar as eleições e qual não pode. Esse é um fator que a metade da população vai achar que só existem três candidatos (Serra, Dilma e Marina) quando na verdade são nove. Porque isso. Na verdade, o financiamento da campanha será feito assim: Serra vai gastar R$ 180 milhões, Marina vai gastar R$ 90 milhões e Dilma R$ 157 milhões e os vamos gastar R$ 300 mil das doações feitas pelos militantes. Agora, eles vão ter rabo preso com os financiadores e nós, não.

O financiamento privado de campanha tem que ser abolido, porque quando eles vencerem as eleições, vão governar para quem. Para o povo ou para os bancos que os colocaram lá. A corrupção da política brasileira é por isso, a relação promiscua que tem as autoridades do país com a iniciativa privada. Esses milhões que estão sendo investidos nas campanhas dos candidatos serão devolvidos depois e multiplicados, em obras superfaturadas, favorecendo a política econômica para os bancos, como tem ocorrido atualmente, infelizmente. A solução é que ocorra um financiamento público, com poucos recursos (em até 10% do valor do salário) para que as pessoas façam a campanha com poucos recursos, porque o Brasil tem muito no que corrigir.

Nós acreditamos que o tempo na televisão também deve ser dividido de forma mais igualitárias, se nos somos nove candidatos e são trinta minutos em cada bloco, porque não da trinta minutos para cada um. Para que o eleitor siba o que pensa cada um dos candidatos e possa escolher o que mais lhe agrada, escolhendo o voto. Hoje o povo brasileiro, não tem condições de saber o que pensa cada candidato. A questão da mídia e das pesquisas, que só citam os candidatos de maior expressão, nos noticias e debates, a população passa a conhecer apenas os mais conhecidos gerando uma deformação no resultado do processo.

Nominuto - As propostas para a campanha do PSTU no Sudeste do Brasil tem alguma diferença para o Nordeste, em termos de demanda de um setor especifico ou o candidato acredita que pode aplicar a mesma diretriz no Rio Grande do Norte

Zé Maria - A campanha para a Presidência da República começou com uma boa receptividade por parte dos trabalhadores e têm como foco em todo o Brasil debater as propostas, setores fundamentais em todo o país e vamos fazer a campanha pela juventude , trabalhadores e por isso, focamos muito nos ambientes de trabalho ou em manifestações como essas que vão acontecer aqui em Natal. A campanha para o PSTU tem que ser uma expressão das lutas da classe trabalhadora em busca de uma vida digna e nosso programa está voltado fundamentalmente para isso: empregos para todos, melhorar o salário mínimo, oferecer aposentadoria digna, saúde, moradia, transporte, acesso a lazer e por isso, propomos uma mudança na sociedade.

No sistema que vivemos hoje, o capitalismo, toda riqueza que é produzida pelo trabalho humano acaba sendo apropriada, indo para as mãos dos donos das fabricas, dos bancos, donos das terras e achamos que a riqueza pode e deve ser utilizada para assegurar as condições para que a população tenha uma vida digna. Nós não vivemos em um país que não pode prover as necessidades. De acordo com o IBGE, em recente pesquisa de orçamento familiar, 75% das pessoas não conseguem fazer o salário chegar ate o final do mês, 68 milhões de brasileiros passam fome no país, é um terço da população. E o Brasil tem condições de melhorar isso, queremos provar que essa mudança pode ser feita.

Aqui no Nordeste, há uma privação grande daquilo que é o básico para ter uma vida digna, mas essa privação também está presente no sul do país. Na cidade de São Paulo , a ONU divulgou um estudo que diz que a metade da população vive em condições de miséria. Na verdade, o que temos que mudar em todo o país é exatamente essa distribuição.

Nominuto No caso de um segundo turno, o PSTU apoiaria quem nas eleições nacionais

Zé Maria O voto para nós é muito importante e neste momento estamos trabalhando por cada um deles. Mas se houver um segundo turno, o voto para nós está vinculado ao conteúdo, ao programa, por isso, dizemos o que a gente pensa, as mudanças que achamos que o país precisa, ainda que essas medidas vão ao contrafluxo do senso comum. Mas vamos esperar o resultado do primeiro turno.

Nominuto Em relação da segurança pública, o candidato ao Senado pelo PSTU, Dário Barbosa, declarou ao Nominuto que irá lutar pela extinção da policia militar. Essa é um bandeira do PSTU nacional

Zé Maria O problema da violência no país é cada vez mais grave, o governo lançou o Pronase para combater a violência e ela continua tal qual estava ou piorou. Hoje, são 25 assassinatos para cada 100 mil habitantes e com um agravante que aumentou muito o numero de jovens, são mais de 5 mil por ano no Brasil , todos os anos. Isso é fruto de um conjunto de fatores. Eu acho que a política para acabar com a violência começa com o acabar com a pobreza porque essa é a base social onde florece a violência nas grandes cidades. Nossas crianças e jovens são vitimas do narcotráfico ou da violência policial. Se não acabamos com isso, gerando emprego, melhorando o salário mínimo, o destino dessas crianças é esse: acabar no mundo da criminalidade. É preciso também acabar com a policia militar, desmilitarizar as policias e unificalas em uma só, garantir que a população escolha um chefe da policia pela população. O povo pobre hoje tem medo do policial e também da policia, que mata as próprias pessoas da comunidade.

Outro quesito é o narcotráfico, com a ilegalidade da droga, que não impede que os jovens tenham acesso a droga, então a ilegalidade não resolve o problema e só serve para assegurar o monopólio e um poder econômico imenso para o crime organizado e com o recurso compra o policial, compra a autoridade e se fecha o circulo vicioso. O Estado tem que garantir ainda assistência aos viciados, que precisam de um tratamento e acreditamos que essa é a solução.

Nominuto Educação e saúde são setores importantes para a sociedade e tem sido uma bandeira usada pelos candidatos a presidência da República. O candidato tem alguma proposta para os setoresEsses discursos é uma emblemática, porque os partidos dos candidatos governaram oBrasil durante os últimos vinte anos. Então, se a educação esta assim isso é só discurso, porque esses candidatos, pelo modelo econômico que eles defendem é a prioridade de 36% para os bancos, com a dívida externa. No ano passado se investiu 2% em educação e 4% em saúde.

A proposta do PSTU é acabar com o ensino privado, estatizar todo o sistema, as intituições privadas porque ensino não é mercadoria, que pode ser comprado por uns e por outros não. Já começa daí a desigualdade social. Segundo, temos que gastar 10% ou 15% do PIB, entre governo municipal, estadual e união, com creches e escolas para os alunos, acabar com o filtro desigual do vestibular e construir mais universidades, contratar profissionais, paga-los dignamente e para isso, temos que triplicar os investimentos que o Brasil faz hoje.

O sistema de gestão também tem que ser técnica, a comunidade tem que eleger o gestor, o diretor da escola, o reitor, ela que paga os impostos, ela tem que controlar. Temos ainda que democratizar a forma de gestão.